Vinícius Pereira de Figueiredo1
Eduardo Armando Medina Dyna2
Introdução
No mês de fevereiro de 2025, diversas notícias apareceram em reportagens e nas redes sociais sobre um suposto salve3, difundido nas prisões, territórios periféricos e na internet, em que se encaminha uma trégua entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho4 (CV). Este suposto acordo visava estabelecimentos de pacificação entre essas organizações criminais e primeiros contatos após quase 10 anos de conflitos violentos, disputas por rotas de tráfico de substâncias psicoativas (popularmente chamados de drogas), principalmente a maconha e a cocaína, domínios de territórios prisionais e periféricos, além das mortes em que esses grupos promoviam em várias Unidades Federativas (UF) do Brasil.
Esse possível acontecimento é muito relevante no que diz respeito a segurança pública das UFs e municípios, além das composições entre as alianças criminais que se consolidaram a partir de 2016, visto que esse processo pode modificar as correlações de força das disputas de poder entre as alianças que promovem confrontos e aumento dos índices de violências em diversas localidades do país. Desta maneira, a importância de discutir esse tema, de maneira inicial, serve para dar um entendimento dos processos de acordos e rearranjos político-criminal entre o PCC, CV e seus aliados nesse novo marco dos comandos criminais.
O Observatório de Segurança Pública e Relações Comunitárias (OSP) traz como objetivo, uma investigação preliminar dos acontecimentos do processo de trégua entre o PCC e o CV. Serão efetuados dois artigos sobre esse tema, sendo este, o primeiro, discutindo o processo da ruptura da guerra entre as facções em 2016, a expansão para rotas comerciais no Paraguai e outros países vizinhos ao Brasil, a formação das alianças criminais e as condições de massacres ao longo deste período violento.
Em segundo momento, será produzido um outro artigo, discutindo os princípios dos acordos que resultaram na “pacificação” momentânea entre ambos, além de possíveis consequências no âmbito criminal e da segurança pública, como a reorganização das alianças criminais e as condições dos presídios federais que corroboram com uma nova união do crime para atender seus próprios interesses.
O intuito destes artigos, visa sistematizar esse processo a partir de uma análise acadêmica sobre as dinâmicas do mundo do crime a partir da ruptura de 2016 e esses novos desdobramentos que estão acontecendo no primeiro quadrimestre de 2025, como forma de maior esclarecimento sobre tais focos. Os procedimentos metodológicos utilizados para este primeiro artigo são de cunho qualitativo, através da revisão bibliográfica em base de dados acadêmicas e de sites de notícias especializadas sobre os enfoques.
A estrutura do texto está dividida em duas partes, além da introdução e considerações finais. A primeira, será discutida o Projeto Paraguai na década de 2010 que culminou no fim da união entre PCC e CV em 2016 e a importância da lógica da circulação e distribuição do comércio de drogas nacional e internacional. Em segundo, será feita a avaliação das causas e as consequências que resultaram nas alianças criminais, passando pelo processo dos conflitos violentos e as composições de amizades e inimizades entre as organizações criminais.
Projeto Paraguai e a trajetória do fim da antiga união do PCC e CV
A expansão do Primeiro Comando da Capital para o Paraguai representa um dos episódios mais significativos da dinâmica do tráfico internacional de drogas na região, revelando não apenas a ampliação da facção, mas também a complexidade das alianças e confrontos entre diferentes grupos criminais. Desde o primeiro movimento de destaque da inserção do PCC no país, em 2010, com o famoso “salve do fortalecimento”, que será discutido mais a frente, até os dias atuais, a presença do grupo tem sido marcada por conflitos, alianças, e uma crescente influência nos países vizinhos.
No entanto, essa investida não começou com o PCC, mas sim com outros grupos como o Comando Vermelho, que, desde o início dos anos 2000, já buscavam se estabelecer na região, com destaque para Fernandinho Beira-Mar5. A história de sua atuação, além de outros episódios, evidencia a busca pelo controle do território e das rotas do tráfico de drogas, em um contexto de disputas violentas entre facções e o fortalecimento do poder da organização criminosa no Paraguai. A trajetória da facção na fronteira entre Brasil e Paraguai, e o impacto de sua presença nos presídios e no mercado ilegal, reflete uma intensificação da violência e a reconfiguração das relações entre facções, além de mostrar como o PCC e o CV modificaram suas relações através deste território.
No entanto, para partir de uma base histórica, traremos junho de 2016 nas cidades fronteiriças de Ponta Porã na UF do Mato Grosso do Sul e Pedro Juan Caballero no departamento de Amambay no Paraguai como um ponto de referência para a compreensão da aliança e da ruptura entre as facções. O primeiro marco de uma investida direta para o Paraguai por parte do PCC foi com o “salve” de 2010, chamado de “salve do fortalecimento”, mas como já apresentado, pode-se dizer que a presença dos brasileiros na dinâmica do tráfico internacional na região é anterior.
Destaca-se como pioneiro o notório membro do Comando Vermelho, Fernandinho Beira Mar. Foragido desde 1997 do Brasil, buscou abrigo no Paraguai, na fronteira Coronel Sapucaia (BR) – Capitan Bado (PY), onde foi acolhido pelo líder do Clã Morel, João Morel, família que controlava o tráfico de maconha e cocaína na região, e fornecia ao Brasil (Manso; Dias, 2018). Posteriormente, devido a sua situação, se muda para a Colômbia onde aumenta sua rede de contatos e em meio a selva colombiana, conhece os laboratórios das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), mesmo local onde acaba preso em 2001.
No mesmo período em que estava na Colômbia destaca-se uma considerável onda de violência entre o Comando Vermelho e o Clã Morel, que abrigou Beira-Mar, originada por desentendimentos entre os grupos que vão desencadear a morte do seu líder João Morel em 2009, eventos que deram espaço para o Comando Vermelho crescer e ampliar a sua rede no mercado de drogas. Ao mesmo tempo o CV manteve contato com o PCC, seja de forma direta entre membros, como através de Douglas Ribeiro, o braço direito de Beira-Mar era vinculado a facção paulista e participa dos eventos com o clã Morel ou mesmo entre encontros de lideranças nos presídios de Regime Disciplinar Diferenciado6 (RDD).
Com o caminho pavimentado, temos finalmente o salve apresentado no inicio deste texto, e que marca uma presença ativa da facção paulista de forma mais independente na fronteira Ponta Porã (BR) – Pedro Juan Caballero (PY), nele o PCC instrui aos seus membros a compreender “que os ideais não é ser donos da fronteira ou demais regiões do país, nem mesmo o poder absoluto e sim dentro do que é certo, correto e justo conquistar e esperar que o derramamento de sangue logo se acabe” trecho retirado de Manso e Dias, 2018. Entende-se que nesse primeiro momento, o PCC assume uma postura de evitar conflito com os grupos da região, ao mesmo tempo que busca ganhar o seu espaço.
O grupo inicia sua presença ativa no território com o envio de emissários, representantes escolhidos para representar os interesses da facção, aqui destaca-se “Corcel”, membro da sintonia7 do progresso, responsável pelo financeiro, representava uma espécie de “tesoureiro”. Corcel assume a função com o objetivo de criar um canal direto com os narcotraficantes locais, inicialmente indo para a Colômbia, posteriormente para a Bolívia onde conheceram um importante nome para o projeto, Antônio Carlos Caballero, vulgo Capilo, ele se tornou membro da facção, sendo o primeiro paraguaio a fazer parte da organização e atuou como intermediário do tráfico de armas e drogas8, mesmo preso, Capilo, esteve à frente das operações, com ajuda de irmãos, até que no fim de 2011 é expulso da facção, mas mantido vivo. A expansão buscava eliminar os intermediários que auxiliavam Capilo (Manso; Dias, 2018).
Nessa nova etapa, com a expulsão de Capilo, foi designado outro membro importante e de prestígio para assumir o projeto, o Teia (Ilson Rodrigues), ele dá continuidade ao projeto, com a intenção de criar uma base para os negócios, como já indicado pelo “salve” destacado aqui no texto. No entanto, Teia é assassinado antes de concluir o projeto, Magrelo e Tiquinho e a operação ficou estagnada até 2014 quando há a libertação de um membro da sintonia geral final, uma das principais sintonias, o Paca (Fabiano Alves) assim o projeto se intensificou e ganhou forma até o seu maior evento, um divisor de águas para o PCC, para a região da fronteira e sua relação com o CV (Manso; Dias, 2018).
A fronteira, controlada por Jorge Raffat Touman, um notório contrabandista da região, com ligações políticas nos dois países (Brasil e Paraguai), não era fácil de ser tomada. Visando uma incursão, o PCC enviou então alguns membros para a região, dando início a conflitos e uma onda de violência na fronteira. Com seu estopim no assassinato de Raffat, em 2016, em uma emboscada, foi surpreendido por rajadas de munição antiaérea e teve sua caminhonete, blindada, destruída. Os tiros teriam sido disparados por Sergio Lima dos Santos, apontado como membro do CV (Manso; Dias, 2018). O evento foi um marco no tráfico de drogas nacional e internacional, alterando a dinâmica na fronteira, culminando também no rompimento histórico entre PCC e CV e iniciando assim uma onda de violência nunca vista antes nas fronteiras do Brasil pelas rotas do tráfico de drogas.
Depois de 2016, o mercado ilegal e a criminalidade se modificam, o PCC e o Comando Vermelho, aliados históricos desde a fundação do grupo paulista, romperam suas relações, embora tenham atuado juntos no assassinato de Raffat, a expansão do grupo não era vista com bons olhos. Verifica-se que desde 2013 essa relação estava desgastada, devido a confrontos entre os grupos e a expansão cada vez maior do PCC (Dyna, 2021), os eventos de 2016 foram determinantes para o rompimento da aliança entre os dois. O rompimento da aliança entre as duas principais facções do crime organizado no Brasil, desencadeou uma onda de violência em presídios e periferias, assim como uma polarização no mundo do crime com facções menores surgindo ou se associando a uma das duas para se fortalecer, principalmente contra o PCC (Dyna, 2021), em contextos específicos, alguns exemplos são Família do Norte (FDN), Primeiro Grupo Catarinense (PGC) e Sindicato do Rio Grande do Norte (SIN-RN), que será aprofundado na próxima seção.
O projeto Paraguai seguiu e segue em meio a violência, e imposição, o modelo de batismos e iniciações se tornou internacional, e mais intenso, conforme a necessidade de combatentes. A presença da facção se intensificou consideravelmente após 2016, e embora, ainda seja recente para falarmos sobre o real impacto que isso significou, alguns indícios demonstram o crescimento da influência do PCC nos países vizinhos. Em 2017, o grupo sofreu um duro golpe com a apreensão de 500 quilos de cocaína, na ocasião a operação foi liderada pelo promotor Marcelo Pecci, que além da operação investigava outras atividades que o PCC poderia ter envolvimento, o promotor paraguaio é assassinado em 2022 em férias na Colômbia. Além disso, ainda sobre o Paraguai, dados do ministério da justiça do Paraguai de 2022 a facção teria batizado 1027 novos membros em território estrangeiro, além de disputas violentas com facções locais, como o Clã Rotela e organização de fugas das prisões.
Atualmente o PCC é o maior grupo armado e ilegal do país, com influência econômica, além da presença nos presídios paraguaios (Molas, 2019). Assim como alianças com grupos locais como o Exército do Povo Paraguai (EPP) (Jozino, 2020) e suspeita de atuação em crimes no território paraguaio como no assalto a empresa de transporte de dinheiro PROSEGUR em 2017 (Veja, 2017) e com o aumento da sua presença nos presídios paraguaios, como na rebelião em Tacumbú, Paraguai em 2021 (Carneri, 2021).
A fronteira entre o Brasil e o Paraguai desempenha um papel crucial na aliança entre o Comando Vermelho e o Paraguai, servindo como um ponto estratégico para o tráfico de drogas e outras atividades ilícitas. A proximidade com o Paraguai, um dos principais produtores de drogas como a maconha, e o seu papel como ponto de passagem para o tráfico internacional, tornaram a região um território disputado entre facções criminosas. O CV, com sua longa presença na dinâmica do crime organizado, foi um dos primeiros grupos a estabelecer laços com os narcotraficantes paraguaios, utilizando a fronteira como um corredor para suas operações. Esse vínculo foi essencial para expandir suas atividades e consolidar sua influência na região.
A importância da fronteira se intensifica com o PCC, que, ao se aproximar da área, buscou não apenas estabelecer rotas seguras para o tráfico, mas também ganhar território e aumentar seu controle sobre as atividades criminosas. A fronteira, portanto, não é apenas um espaço geográfico, mas um elo fundamental para a interação entre as facções, permitindo o fluxo contínuo de drogas, armas e outros recursos, além de facilitar o estreitamento de laços com grupos locais, ampliando as operações e consolidando as alianças entre o CV e o PCC no Paraguai.
A década violenta: alianças, conflitos e modificações entre Tudo 2 e Tudo 3
Com o advento do racha entre as organizações criminais PCC e CV em 2016, se intensificou um processo difuso de alianças criminais entre os comandos brasileiros, separados em dois blocos principais, protagonizados por esses grupos nacionais. O PCC representava a aliança Tudo 3 e o CV correspondia a liderança do Tudo 2. Essas uniões moldaram as dinâmicas do mundo do crime, nas prisões, nos territórios periféricos, nas rotas comerciais de mercadorias criminais e na segurança pública das cidades e UFs, configurando como um dos principais pilares para os processos de aumento de violência, homicídios e das criminalidades em todas as regiões do Brasil.
As alianças Tudo 3 e Tudo 2 são configurações políticas-criminais que transitam em circuitos de poder com estratégias, objetivos, métodos e finalidades entre o limbo do legal e ilegal, havendo interesses em comuns, mas também, disputas e relações díspares a partir de cada particularidade da atuação dos comandos nos territórios que estão sob sua influência ou naqueles que há disputas. Em outras palavras, esse processo dos movimentos entre Tudo 2 e Tudo 3 (mas também com outras facções, grupos criminais, milícias e forças policiais) pode ser traduzido como uma geopolítica do mundo do crime, com confrontos, ocupação de territórios específicos, trocas, traições e golpes internos dentro dessas alianças, impactando diretamente as populações que não estão envolvidas no contexto do crime, polícia e segurança pública.
Para ilustrar melhor, as alianças não surgiram exatamente com o fim do pacto de não agressão entre PCC e CV em 2016, mas anteriormente, com movimentos de deslocamentos de um contexto anterior à consolidação das facções nacionais e seu processo de expansão para outras regiões do Brasil a partir da década de 2010, como discutido na seção anterior.
Com isto, esses comandos locais surgem a partir de diversos contextos, pautados pela revisão bibliográfica, informações de interlocutores que entraram em contato com os pesquisadores deste artigo e os debates dos especialistas sobre o tema. Assim, a produção das pesquisas locais sobre alguns comandos como o PCC, CV, Família do Norte (AM, PA), Amigos dos Amigos (RJ), Bonde dos 40 (MA), Guardiões do Estado (CE), Bala na Cara (RS), AntiBala (RS), Neutros (AL) e Sindicato do Crime (RN) nos ajudam a entender sobre o surgimento desses processos.
O PCC é uma organização criminal surgida em 1993 em uma prisão no interior de São Paulo, criada por presos que reivindicavam pautas sobre melhores condições para o cárcere e seus interesses econômicos dentro do mundo do crime. Ao longo dessas três décadas de existência do PCC, muitas mudanças internas e externas foram sendo construídas, alterando as dinâmicas da segurança pública, criminalidade, circulação de drogas e no processo jurídico-político brasileiro, com uma atuação em todas as regiões do Brasil, além do processo de internacionalização para países da América do Sul (Figueiredo, 2021).
A organização criminosa CV foi criada pela conexão entre presos políticos e comuns no contexto da ditadura civil-militar no final da década de 1970 no Rio de Janeiro. A facção foi a primeira a surgir no Brasil, como forma de organizar os presos politicamente, adentrando em novas lógicas criminais que foram estabelecidas de maneira mais energética a partir da década de 1990, como tráfico de drogas e o domínio territorial nas favelas em morros cariocas. O CV expandiu sua influência para outras regiões do Brasil, tendo contato com países latino-americanos e guerreando, em diversas frentes, contra poderes de outras facções, milícias, policiais que marcaram o imaginário deste comando (Lima, 1991).
A partir da expansão do PCC e CV por todo país, muitas dissidências, contatos e oposições de agentes dos crimes locais com esses comandos promoveram o surgimento de novas facções no Brasil. A facção Bonde dos 40 (B40) surgiu na UF do Maranhão em meados dos anos 2010, causada pelos contatos entre integrantes do PCC e CV que ensinaram as práticas e saberes do mundo do crime, fazendo uma nova organização local no Maranhão e, depois de anos, aumentando o poder do B40 para outras regiões além da capital São Luís (Lopes; Leão, 2023). No Ceará, em detrimento da oposição da expansão sudestina do PCC e CV, um grupo de presos e agentes do crime criaram o comando “Guardiões do Estado”, facção cearense que rivalizou com ambos grupos no começo dos anos 2010 e uniu as forças do crime de Fortaleza e outras importantes cidades para impor sua própria organização do crime sem precisar de outros poderes estrangeiros naquela UF (Paiva, 2019).
O Rio Grande do Sul é uma das UFs com maiores facções locais, sendo um caso à parte pois é uma região fronteiriça internacional, local que transita mercadorias, pessoas e estratégias singulares, criando vários grupos com menor destaque nacional, atuando principalmente em Porto Alegre e cidades próximas. As duas principais facções, que são rivais entre si, são o Bala na Cara (BNC), que surgiu pelos contatos e aprendizados das facções nacionais e os Antibala, organização que surgiu para se opor ao poder e domínio dos BNC na região gaúcha (Cipriani, 2019). Já em Alagoas, semelhante ao caso do Ceará, um grupo de presos que não queriam assumir um lado entre as disputas do PCC e CV, produziram ações nas periferias e prisões em Maceió e outros municípios, levando a criação da facção Neutros, como o próprio nome já demonstra, isento na relação de dominação dos rivais do sudeste, mas que foi ganhando o mesmo caráter e disputando territórios e mercadorias ilícitas no mundo do crime (Rodrigues, 2021).
O Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte (SDC) teve sua criação semelhante aos demais, a partir de dissidências de ex-integrantes do PCC e de se opor a forma de dominação da organização paulista na capital Natal e em outros locais dessa UF ainda no final dos anos 2000, ganhando muito destaque pelos conflitos em 2017 (Duarte; Melo, 2022) e aumentando seu poder pelo nordeste. A Família do Norte (FDN) foi uma organização criminal localizado em algumas UFs da região norte, principalmente no Amazonas, Pará e Roraima, criando, temporariamente uma aliança para rivalizar com o Tudo 2 e Tudo 3, denominada Tudo 1, e por um período específico, foi a terceira maior facção do Brasil9. Ela foi uma das principais opositoras ao PCC a partir de 2015, tendo relações de amizade posteriormente com o CV (Ferreira; Framento, 2019).
Ainda na década de 1990, no contexto impreciso do Rio de Janeiro, uma dissidência do CV foi o estopim para a criação de outra facção que influenciou prisões e os morros cariocas, além de inaugurar o cenário de guerras no crime que se alastraram nas últimas décadas. O Amigos dos Amigos (ADA) é um comando que se estabeleceu nos principais territórios dos morros do Rio de Janeiro, tendo em seu quadro, alguns dos principais nomes do crime nessa UF, mas que nos últimos anos, após crises, dissidências e problemas internos, teve seu papel reduzido para pouco prestígio no mundo do crime (Motta, 2021).
Diante desse breve cenário de criação de alguns comandos do Brasil, houve o estabelecimento de alianças, a partir do segundo semestre de 2016, o que intensificou os conflitos entre o domínio territorial em diversas regiões do Brasil, com muitos casos de massacres, atentados e violências. Aqueles que eram apoiados pelo PCC e rivais do CV se firmaram como Tudo 3, já aqueles com amizade ao CV e inimigos do PCC, resultaram no Tudo 2. Para uma melhor explicação, a partir de um levantamento feito por Dyna (2023), é possível verificar essa relação, como apresentado:
Quadro: Alianças das facções Tudo 2 e Tudo 3 em 202310
TUDO 2: Comando Vermelho (origem no Rio de Janeiro, presente em diversos UF do Brasil), União do Crime do Amapá (Amapá), Comando da Paz (Bahia), Bonde do Ajeita (Bahia), Comando Vermelho do Maranhão (Maranhão), Novo Okaida (Paraíba e Rio Grande do Norte), Comando Vermelho de Goiás (Goiás), Primeiro Comando de Vitória (Espírito Santo), Máfia Paranaense (Paraná), Primeiro Grupo Catarinense (Santa Catarina), Comando Vermelho de Santa Catarina (Santa Catarina), Bala na Cara (Rio Grande do Sul). |
TUDO 3: Primeiro Comando da Capital (origem em São Paulo, presente em quase todas UF do Brasil), Bonde dos 13 (Acre, Tocantins), TCP (Rio de Janeiro), Amigos dos Amigos (Rio de Janeiro) Comando Classe A (Pará), Família Terror (Amapá), Primeiro Comando do Panda (Rondônia), Guardiões do Estado (Ceará), Bonde do Maluco (Bahia), Estados Unidos (Paraíba), Comboio do Cão (Distrito Federal), Os Manos (Rio Grande do Sul). Fonte: Elaborado pelo autor. |
Fonte: Dyna (2023)
A conjuntura dos blocos faccionais ganharam relevância a partir de janeiro de 2017, com repercussões nacionais e internacionais de cenas de barbaridade nas cadeias em UFs do norte e nordeste do Brasil. No dia 02 de janeiro daquele ano, uma rebelião ocorreu na penitenciária de Manaus na UF do Amazonas, resultando em batalhas internas entre os pavilhões que eram divididos pela influência de facções, o que culminou com a morte de 56 detentos pertencendo da organização criminal PCC por parte de integrantes da FDN. A repercussão, além do segundo maior massacre prisional da história brasileira, foi a forma de como foi a morte e a violência contra o corpo dos integrantes do PCC foram feitas, caracterizado como vilipêndio, visto que foi realizado decapitação e desmembramento de inúmeros corpos, sendo utilizados os pedaços dos cadáveres como prêmio e zombaria pelos rivais, o que trouxe um choque para toda opinião pública e uma ruptura da moralidade dentro do mundo do crime (Ferreira; Framento, 2019).
Esse tipo de massacre e a violência simbólica que a FDN fez contra o PCC foi respondida dias depois, gerando mais violência e conflitos. No dia 06 de janeiro de 2017, em uma penitenciária em Roraima, uma nova rebelião seguida de massacre foi realizada pela disputa entre as facções, agora com a morte de mais de 30 integrantes da FDN e CV por parte do PCC, como forma de vingar a prática feita em Manaus e principalmente, se colocar como uma posição de poder em detrimento as disputas entre os comandos. Os mesmos casos de degolamento e desmembramento foram utilizados contra os corpos rivais, noticiando mais um triste episódio na história brasileira (Dyna, 2023).
No dia 14 de janeiro de 2027, uma semana depois dos vilipêndios em Roraima, uma nova batalha ocorreu no Rio Grande do Norte, entre o PCC e o SDC, reproduzindo as mesmas práticas e motivos dos episódios no norte do país. Este caso teve muita repercussão por causa da transmissão ao vivo dos conflitos e pela angústia dos familiares, autoridades e membros da sociedade que esperavam, sem saber as consequências, dos conflitos. Neste episódio, quase 30 presos foram mortos, sendo membros do PCC, SDC e detentos que não eram de nenhum grupo criminal, sendo confundido como integrantes, em destaque ao preso morto com uma bíblia na mão que gerou pânico naquela ocasião, além do fato de um corpo que não foi encontrado nos meses seguintes a este processo, pois ele foi desmembrado, queimado e enterrado nas áreas da penitenciária (Dyna, 2023; Duarte; Melo, 2022).
Em 2019, os conflitos ainda estavam acontecendo, mas com uma menor intensidade do que nos anos anteriores. Em Altamira, no Pará, outro confronto ocorreu na penitenciária desta cidade, agora entre o Comando Classe A11 (CCA), aliado do PCC e integrante do Tudo 3 contra o CV, que avançava pela região. Com um contexto semelhante aos casos de 2017, uma rebelião seguida por massacre terminou com mais de 57 pessoas mortas, com crueldade na forma de decapitar e desmembrar seus inimigos, além de incendiar algumas celas que resultou na morte por asfixia de outros presos, o que representa o alto número de mortes nesse confronto (Dyna, 2023).
Esses eventos foram os mais destacados, apesar de haver outros conflitos entre as alianças Tudo 2 e Tudo 3 em prisões e periferias urbanas dos municípios do norte, nordeste e centro-oeste do Brasil em menor escala. É importante ressaltar que os choques entre os blocos criminais nas regiões supracitadas ocorreram por um duplo processo concomitante ao fim da aliança entre PCC e CV: 1) Expansão e fortalecimento de novas rotas comerciais que ligam os países vizinhos que são produtores de substâncias ilícitas – maconha, cocaína e derivados da folha de coca – até os portos e aeroportos em todo litoral brasileiro, exportando essas mercadorias para outros continentes no modo atacado e para abastecer o varejo do mercado interno. Ademais, a qualidade das drogas é contabilizada pelo seu preço, assim, seguindo a lógica capitalista do lucro, as substâncias ilícitas de melhor qualidade eram exportadas para outros países, e as de menor qualidade eram vendidas para os pontos de vendas de drogas (chamados de biqueiras ou bocas de fumo) em todo Brasil (Pinho, Patriarca, 2021; Pinho; Rodrigues; Zambon; 2023).
2) A multiplicação de facções criminais e a busca constante por domínio de territórios, mercados ilícitos e a influência de populações foram intensificadas nas regiões norte, nordeste e centro-oeste, em virtude da expansão das facções nacionais, a reação e o surgimento dos comandos locais, pois foram lugares que foram dominadas posteriormente a partir da década de 2010 e pela importância territorial argumentada no parágrafo anterior.
Na década de 2020, os conflitos diminuíram em detrimento da pandemia de Covid-19 e pelas mudanças de composições políticas entre os grupos criminais, como a extinção de alguns comandos (FDN), o racha de outros (como por exemplo, a fratura da facção paraibana Okaida que virou Nova Okaida12 e mais recentemente, a rivalidade entre o SDC e o CV no Rio Grande do Norte) e constituições de outras alianças, como o extinto Tudo 1 com a FDN. Assim, após o ápice de violências e um cenário de quase de 10 de conflitos, uma suposta surpresa iniciou uma nova ruptura no cenário do crime, com os acordos entre as principais organizações criminais e a modificação dos blocos Tudo 2 e Tudo 3 que será exposta no próximo artigo do OSP.
Considerações Finais
O processo da composição político-criminal entre as facções PCC e CV trouxeram muitos desdobramentos para a segurança pública, mundo do crime, os territórios prisionais e periféricos e suas populações. Esses grupos tornaram-se comandos nacionais, com sua expansão ao longo dos anos de 2010 e o “Projeto Paraguai”, fator crucial para o fim da antiga união entre PCC e CV em 2016. A expansão do PCC para o Paraguai, intensificada com o “salve do fortalecimento” em 2010, ocorreu após a atuação inicial do CV na região com Fernandinho Beira-Mar.
A disputa pelo controle do tráfico internacional e a morte de Jorge Raffat em 2016 serviram como marco para o rompimento da aliança histórica. Após 2016, o cenário criminal foi reconfigurado com a formação de dois grandes blocos: Tudo 3 e Tudo 2. Essas alianças moldaram a geopolítica do crime, intensificando conflitos por território e influência, discutindo o surgimento de algumas facções locais e sua composição político-criminal.
O período pós-rompimento foi marcado por uma década de intensa violência, com massacres em presídios no Amazonas, em Roraima, no Rio Grande do Norte e no Pará, motivados pelas disputas entre o Tudo 2 e o Tudo 3. Portanto, a expansão para novas rotas de drogas e a multiplicação de facções por domínios territoriais foram um dos principais motivos que intensificaram os conflitos e violências nas regiões norte, nordeste e centro-oeste.
Por fim, o texto aponta para uma diminuição dos conflitos na década de 2020, culminando na surpreendente notícia dos acordos de trégua entre PCC e CV em 2025, sinalizando uma potencial nova reconfiguração no crime organizado. Em suma, a obra analisou a ruptura de 2016, a formação de alianças e a violência subsequente, lançando luz sobre as dinâmicas das organizações criminais no Brasil até a possível trégua, fator que será trabalhado no próximo texto, em que será investigado a partir da revisão bibliográfica, dos sites de notícias e do monitoramento, coleta e análise de dados em plataformas de internet e redes sociais, os primeiros desdobramentos dos acordos entre as facções nacionais, as ordem criminais em determinados territórios e as transformações político-criminais nos blocos Tudo 2 e Tudo 3.
Referências
CARNERI, Santi. Motim envolvendo o PCC deixa 7 mortos no maior presídio do Paraguai, 3 deles decapitados. El País, Assunção, 18 fev de 2021.Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-02-18/motim-envolvendo-o-pcc-deixa-7-mortos-no-maior-presidio-do-paraguai-3-deles-decapitados.html
CIPRIANI, Marcelli. “Partiu o atentado”: uso da violência pelos coletivos criminais de Porto Alegre e as mortes da guerra no crime. “Grupo de Trabalho 30: Violência, crime e punição”. Anais de evento. Sociedade Brasileira de Sociologia. 2019.
DUARTE, Thais Lemos; MELO, Juliana Gonçalves. É guerra?: narrativas Judiciais sobre a Ação do PCC e do SDC. Revista Tomo, n. 40, p. 243-243, 2022.
DYNA, Eduardo Armando Medina. As faces da mesma moeda: uma análise sobre as dimensões do Primeiro Comando da Capital (PCC). Monografia. Universidade Estadual Paulista, Marília. 2021.
DYNA, Eduardo Armando Medina. O crime produz segurança? Uma análise do dispositivo de proteção, segurança e administração de conflitos do Primeiro Comando da Capital nas periferias paulistas. 2023. 213 f. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual Paulista, Marília.
FERREIRA, M. A. S. V.; FRAMENTO, R. Degradação da Paz no Norte do Brasil: o conflito entre Primeiro Comando da Capital (PCC) e Família do Norte (FDN). Revista Brasileira de Políticas Públicas e Internacionais, v. 4, n. 2, p. 91-114, 2019.
FIGUEIREDO, Vinícius Pereira de. Organizações internacionais e sua ação contra o crime organizado transnacional: um estudo de caso sobre a ascensão e presença do PCC na América do Sul. Monografia. Universidade Estadual Paulista, Marília. 2021.
JOZINO, Josmar. Guerrilha que sequestrou ex-vice-presidente paraguaio faz segurança do PCC. UOL, 17 set. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/josmar-jozino/2020/09/17/pcc-faz-alianca-com-grupo-guerrilheiro-do-paraguai-diz-tv.htm. Acesso em: 23 jul. 2024.
LIMA, William da Silva. 400 contra 1: história do Comando Vermelho. 1991.
LOPES, Thiago Brandão; LEÓN, Roberto Briceño. A justiça penal do Bonde dos 40: uma análise da aplicação da justiça criminal em Sao Luís-MA, Brasil. Espacio abierto: cuaderno venezolano de sociología, v. 32, n. 2, p. 169-186, 2023.
MANSO, Bruno Paes; DIAS, Camila Nunes. A guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil. Editora Todavia SA, 2018.
MOLAS, Juan Martens. Presencia y actuación del Primer Comando de la Capital (PCC): Implicancias políticas y sociales. Revista jurídica. Investigación en ciencias jurídicas y sociales, v. 2, n. 9, p. 59-75, 2019.
MOTTA, Jonathan Willian Bazoni da. A crise da facção Amigos dos Amigos (ADA) e a nova racionalidade econômica no crime carioca. CP04 – Sociologia das Periferias Urbanas. Anais de evento. Sociedade Brasileira de Sociologia. 2021.
PAIVA, Luiz Fábio S. “AQUI NÃO TEM GANGUE, TEM FACÇÃO”: as transformações sociais do crime em Fortaleza, Brasil. Caderno crh, v. 32, n. 85, p. 165-184, 2019.
PCC está por trás de roubo no Paraguai, apontam investigações. Veja, 25 abr. 2017. Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/pcc-esta-por-tras-de-roubo-no-paraguai-apontam-investigacoe s. Acesso em: 26 jul. 2024.
PINHO, Isabela Vianna. PATRIARCA, Gabriel. Fronteiras porosas: crime e policiamento nos portos brasileiros. Anais de evento. Sociedade Brasileira de Sociologia. 2021.
PINHO, Isabela Vianna; RODRIGUES, Fernando de Jesus; ZAMBON, Gregório. NAVEGAR É PRECISO: As jornadas da cocaína e a expansão das facções pelo Brasil. Novos estudos CEBRAP, v. 42, p. 41-58, 2023.
RODRIGUES, Fernando de Jesus. Neutros: Novos atores criminais, o combate local às facções nacionais e os homicídios em Maceió, Alagoas. Blog da SBS, 2021.
- Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNESP Marília. Possui pós-graduação em Políticas Públicas e Projetos Sociais pelo Centro Universitário SENAC. Graduado em Ciências Sociais e Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Pesquisador do Observatório de Segurança Pública. E-mail para contato: vinicius.figueiredo@unesp.br. ↩︎
- Doutorando do Programa de Pós Graduação em Sociologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Marília. Pós-graduado em Políticas Públicas e Projetos Sociais no SENAC-SP. Graduado em Ciências Sociais na UNESP de Marília. Pesquisador do Observatório de Segurança Públicas e Relações Comunitárias (OSP), do Laboratório de Análise das Realidades Virtualizadas (LAREVI), ambos da UNESP e do Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos (GEVAC) da UFSCar. E-mail para contato: eduardo.dyna@estudante.ufscar.br. ↩︎
- Salve é uma denominação polissêmica sobre disseminação de informações, objetivos e esclarecimento do PCC, que ao longo dos anos, foi sendo incorporado por outras organizações criminais, sendo agora estabelecido no meio das facções. ↩︎
- Ao longo do artigo, será contextualizado o que é o PCC e o CV. ↩︎
- Luiz Fernando da Costa, conhecido como Fernandinho Beira-Mar, é um dos líderes históricos do CV. Iniciou no crime nos anos 1980 com roubos e tráfico de armas, ascendendo ao controle de pontos de drogas no Rio de Janeiro e está na prisão há décadas. ↩︎
- O RDD é uma prisão de segurança máxima, instaurado em São Paulo no começo dos anos 2000, que visa um controle rigoroso aos presos que passaram por punições internas no sistema penitenciário, retirando alguns direitos e acessos dos detentos ao convívio, recursos e práticas durante sua pena. ↩︎
- Entende-se que as sintonias do PCC são espaços de organização e direcionamento das ações do grupo de modo que cada sintonia representa um aspecto da facção. ↩︎
- Importante ressaltar que o Paraguai não só fornece maconha, mas é caminho para a cocaína que vem da Bolívia (sem acesso ao mar). ↩︎
- Muitas informações atrelada aos pesquisadores sobre o tema, sites de notícias e dados coletados nas redes sociais e plataformas de internet demonstram que a FDN deixou de existir por problemas de disputas internas e incorporação de seus membros ao CV do Pará. ↩︎
- É importante ressaltar que, como o artigo do OSP em janeiro de 2025, esse levantamento foi realizado em 2023 e corresponde às dinâmicas daquela época. Isso significa que provavelmente alterou-se os blocos de alianças, podendo estar imprecisa para uma análise mais rigorosa. Assim, é recomendável a compreensão dos leitores sobre tais contradições. ↩︎
- O CCA é um grupo criminal surgido entre o final da década de 2000 e inícios dos anos 2010 na região de Altamira no Pará. Ela surgiu para organizar o mundo do crime naquela região e lucrar com os processos de rotas comerciais de mercadorias ilícitas pelos portos fluviais daquele local, estabelecendo aliança com o PCC na segunda metade da década de 2010 e gerindo as prisões em Altamira e cidades próximas. ↩︎
- A facção Okaida foi criada na década de 2010 em resposta à expansão do PCC na Paraíba, se aliando anos depois ao CV e Tudo 2. Entre 2018 e 2019, algumas dissidências internas da Okaida culminaram em um racha, criando uma nova organização que se consolidou na Paraíba chamada “Nova Okaida”, presente em periferias e prisões de João Pessoa e nas principais cidades dessa UF. ↩︎