O pensador francês Michel Foucault (1926-1984) apresenta, no conjunto de sua obra, uma abordagem crítica original das relações de poder, dos discursos que veiculam saberes, dos modos de subjetivação (formas nas quais os sujeitos se compreendem e são apreendidos pela sociedade). Na construção de seu prisma analítico, Foucault constituiu uma síntese peculiar de diversos pensadores como Nietzsche, Canguilhem, Kant e Hyppolite (Eribon, 1990).[2] Abordagem tributária também das efervescências contestatórias de seu contexto, muitas nas quais se envolveu diretamente: o Maio de 68, as forças antipsiquiátricas, as lutas dos prisioneiros e os movimentos de liberação sexual (Fontana; Bertani, 1999, p. 344).
Esta obra apresenta uma pesquisa qualitativa em fontes bibliográficas e fílmica para traçar as singularidades políticas e subjetivas dos psicofármacos. O autor apresenta um jogo de contrastes, uma comparação entre as relações de poder-saber-sujeição que atravessam a psiquiatria em dois intervalos históricos distintos: a constituição e a consolidação da psiquiatria na França do século XIX e a medicalização das práticas e saberes psiquiátricos e, em especial, o uso asilar de substâncias químicas com algum efeito psicoativo (denominadas de de “protopsicofármacos”) na atualidade, sobretudo o Prozac, o antidepressivo mais receitado no planeta.
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