Documento
Dados da obra
Autor
Rede de Observatórios da Segurança
Título
Pele-alvo: A cor da violência policial
Tipo
Relatório
Resumo
Falamos aqui de um racismo declarado que se pratica com a anuência de autoridades e a naturalização de boa parte da sociedade. Diferentemente das políticas governamentais de saúde, educação, cultura e meio ambiente, cuja reprodução do racismo estrutural se sustenta em desequilíbrios, injustiças, omissões e às vezes em sutilezas, as políticas de segurança racistas são explícitas e constroem o imaginário da negritude associada à tendência da criminalidade. Pessoas negras são elementos suspeitos. São inimigos racialmente determinados e que, em um imaginário construído com argumentações racistas, precisam ser eliminados para que supostamente se garanta a manutenção da sociedade. A construção do inimigo é uma tática que tanto não protege todas as vidas como se orienta para a distribuição da morte territorialmente – como mostramos no nosso relatório de dois anos “A Vida Resiste”. Isso é comprovado com o nosso monitoramento e também pela análise dos números registrados pelas secretarias de segurança que realizamos pelo segundo ano seguido. Nós uniformizamos os bancos de dados – visto que os microdados (informações como cor, sexo, idade e outras variáveis) não são padronizados e cada estado tem um modelo diferente de apresentação – e extraímos algumas estatísticas descritivas. Este boletim revela o impacto do racismo policial nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. São dados registrados em 2020 e que mostram que mesmo em um contexto de crise sanitária mundial o racismo não dá trégua e, pelo contrário, mata ainda mais, tanto por vírus como por tiro. As crianças João Pedro, Juan Ferreira, Emily e Rebecca são alguns desses “inimigos” abatidos pelas forças do Estado. Em Salvador, Recife e Fortaleza todas as pessoas mortas pela polícia no último ano são negras. No Piauí, estado que passou a integrar a Rede de Observatórios há poucos meses e aparece pela primeira vez em uma das nossas análises, quase a totalidade das vítimas é negra. Existe ainda a omissão, que demonstra outra face do racismo: no Ceará, por exemplo, muitos mortos não têm a cor declarada e, no Maranhão, o Estado nem mesmo monitora a cor dos mortos pela polícia. Nossa obrigação, como pesquisadores, ativistas e defensores de direitos, é apoiar com dados, argumentos e incidência nas mídias comunitárias e sociais, os movimentos de mulheres negras e de grupos antirracistas de periferia. São eles e elas que irão mudar as polícias.
Citação
Palavras-chave
Racismo | Polícia | Violência | Segurança pública.
Ano
2021