Entrevista de pesquisadores do Observatório de Segurança Pública para a Rádio USP

No dia 03 de dezembro de 2024, foi publicado a entrevista dos pesquisadores do Observatório de Segurança Pública e Redes Comunitárias (OSP), Vinicius Figueiredo1 e Eduardo Dyna2, que participaram da matéria3 da Rádio USP sobre o combate ao crime organizado.

O crime organizado no Brasil enfrenta uma série de críticas por parte de especialistas, que apontam para a incapacidade do Estado em combatê-lo de forma concreta. A matéria “Enquanto houver desigualdade econômica no Brasil, será difícil conter o crime organizado” do Jornal da USP aborda diversos aspectos dessa problemática, com base em diferentes perspectivas dos pesquisadores, pensando sobre os desafios, limites e contradições da relação entre Estado e crime organizado, que atinge a segurança pública no Brasil.

O conteúdo4 da matéria traz a reflexão da discussão sobre a incapacidade do Estado em combater o crime organizado e o risco iminente de o Brasil se tornar um NarcoEstado. A matéria examina as dinâmicas das facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), e seu impacto na sociedade brasileira. A matéria foi assinada por Ferraz Júnior e Rosa Talmonte.

Eduardo Dyna argumenta que a crise na segurança pública brasileira não é apenas resultado de falhas administrativas, mas sim um projeto político que perpetua as desigualdades sociais. Ele analisa que há setores da sociedade brasileira que se beneficia com a violência e com a insegurança pública, além de advertir que ações repressivas sem planejamento estratégico podem gerar mais violência, como demonstrado pelos massacres em prisões e periferias, além do Estado e os governantes produzirem problemas que são incorporados nas existências do Primeiro Comando Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).

Segundo ele, o PCC se tornou mais do que uma organização simples, criando uma complexidade a partir da sua expansão nacional e internacional, como no Paraguai e Bolívia, e se consolidando como um player no mercado internacional de drogas. Assim, o PCC produziu características próprias, com uma produção de ordem e atuações no sistema prisional e em territórios periféricos. Para Dyna, a falta de políticas públicas eficazes para atender às demandas sociais criou brechas que são beneficiadas pelas facções, pois na visão dele, as organizações criminosas não querem substituir o Estado, não querem o fim deste Estado, mas sim, explorar suas contradições para garantir seus próprios interesses.

Vinícius Figueiredo discorre que as políticas de combate ao crime organizado baseadas apenas no encarceramento são ineficazes, visto que o Brasil é a terceira maior população carcerária e, ao mesmo tempo, há inúmeras facções que se fortalecem cada vez mais. Para Figueiredo, o país precisa de estratégias mais inteligentes que levem em consideração a complexidade desses grupos, ao invés de apostar em uma repressão que apenas intensifica o ciclo de violência e fortalece o crime organizado. Figueiredo também defende a importância de integrar políticas públicas que considerem as especificidades e as dinâmicas de cada organização criminosa, argumentando que não existe uma solução única para o problema.

Ele ressalta que cada facção tem suas particularidades, e as estratégias de combate devem ser adaptadas a essas diferenças. Além disso, Figueiredo chama atenção para o impacto internacional do crime organizado no Brasil, apontando que a América do Sul é uma das principais regiões exportadoras de drogas, e o mercado de drogas é que sustenta esses problemas. No Brasil, o PCC mantém conexões com grupos internacionais e que atuam diretamente em fronteiras, como a do Paraguai, demonstrando que o problema transcende as fronteiras nacionais e exige uma abordagem integrada com outros países.

Recomenda-se a leitura da matéria e a entrevista com os pesquisadores. O OSP agradece a Rádio USP e aos jornalistas pela oportunidade. A reportagem pode ser encontrada no seguinte link: https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/estado-brasileiro-nao-consegue-conter-o-avanco-do-crime-organizado/

  1. Pós graduado em Políticas Públicas e Projetos Sociais do SENAC/SP. Graduado em Relações Internacionais na UNESP de Marília. Graduando em Ciências Sociais na UNESP de Marília. Pesquisador do Laboratório de Realidades Virtualizadas da UNESP e do Observatório de Segurança Pública da UNESP. ↩︎
  2. Doutorando do Programa de Pós Graduação em Sociologia da UFSCar. Mestre em Ciências Sociais no Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da UNESP de Marília. Pós graduado em Políticas Públicas e Projetos Sociais do SENAC/SP. Graduado em Ciências Sociais. Pesquisador do Laboratório de Realidades Virtualizadas da UNESP, do Observatório de Segurança Pública da UNESP e do Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos da UFSCar. ↩︎
  3. A matéria se encontra no link: https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/estado-brasileiro-nao-consegue-conter-o-avanco-do-crime-organizado/ e foi organizada pelos jornalistas Ferraz Junior e Rose Talamone da Rádio USP Ribeirão Preto. ↩︎
  4. Foi retirado alguns trechos das entrevistas dos pesquisadores do OSP para a matéria da Rádio USP e compartilhado nesse post. É importante a leitura na integra para compreender todas as informações. ↩︎

Mestrando do Programa de pós graduação em ciências sociais (stricto sensu) na Universidade Estadual Paulista (UNESP) - campus de Marília, na linha 1: Pensamento Social, Educação e Políticas Públicas (2021-2023). Foi bolsista FAPESP, produzido uma pesquisa sobre as disputas de poder entre o PCC e a PM na chacina de 2015 em Osasco (2020).

Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) com a monografia “Organizações Internacionais e suas ações contra o Crime Organizado Transnacional: Um estudo de caso sobre a ascensão e presença do PCC.” Graduando em Ciências Sociais pela mesma instituição e pós-graduando em Políticas Públicas e Projetos Sociais pelo Centro Universitário Senac. Atualmente desenvolvendo iniciação científica como bolsista PIBIC, com o tema “A criminalidade como aspecto da segurança privada no estado de São Paulo: A abordagem da mídia sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC).”